RECEITA DA ESTAPAR SUPERA R$ 1 BI EM 2017

Andre Iasi, presidente da Estapar: "Houve uma melhora na atividade [econômica], especialmente no segundo semestre"

André Iasi, 43 anos, dorme e acorda pensando em tecnologia. Contabiliza downloads de seu aplicativo, usuários ativos, avalia os dados gerados e dedica boa parte do seu tempo a estudos e pesquisas sobre novas tendências de mobilidade urbana e como usar sua plataforma para gerar outras receitas, ampliar a eficiência e ter mais clientes. A rotina do executivo, conhecido como Dega, parece mais com a de um gestor de uma companhia tecnológica, embora seja o presidente de um negócio tão tradicional como estacionamentos. É assim sua vida desde 2012 quando assumiu a presidência da Allpark, que tem a Estapar como sua principal bandeira.

A companhia é controlada por um grupo de investidores: o BTG Pactual, detém 49,5% do capital, e o fundo americano Equity International, do bilionário Sam Zell, possui 30,2%. A sociedade tem ainda a Bozano Investimentos (11,5%), a gestora Franklin Templeton (6,1%) e os ex-donos da rede (2,7%) como acionistas. O BTG Pactual adquiriu o controle em 2009 e atraiu outros sócios, que injetaram recursos na empresa. O fundo de Sam Zell entrou em 2016, com aporte total de R$ 500 milhões.

Quando Iasi assumiu o comando em 2012, a Estapar faturava pouco mais de R$ 500 milhões. Sua missão era transformar a companhia: em vez de ser uma empresa de imóveis - dona de garagens, de terrenos -passaria a ser uma prestadora de serviços e de infraestrutura de mobilidade urbana.

Em 2017, o negócio passou a marca do bilhão em receita líquida. Os estacionamentos da rede arrecadaram R$ 1,35 bilhão, dos quais R$ 1,1 bilhão são de titularidade da empresa.

De acordo com Iasi, sem aumento médio de tíquete, a receita cresceu cerca de 10% com aumento do movimento. "Houve uma melhora na atividade, especialmente no segundo semestre. Dá para perceber que o fundo do poço da economia foi no fim de 2016", explicou em entrevista ao Valor.

Mas o número que deixa o executivo mais satisfeito é o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), que subiu de R$ 120 milhões para R$ 175 milhões no ano passado. A Estapar registrou, pelo terceiro ano consecutivo, estabilidade nas despesas gerais e administrativas, com pouco mais de R$ 106 milhões.

A tecnologia, contou Iasi, é um dos pilares de ambos os avanços. Lançado em 2014 em sua primeira versão, o aplicativo da Estapar "Vaga Inteligente" acumula, segundo ele, 700 mil downloads e 500 mil usuários com dinheiro na carteira virtual do serviço. Com os créditos, é possível pagar o período de uso das vagas da rede ou mesmo as públicas, da chamada Zona Azul. Também há o serviço de reserva de vagas com antecedência, para aeroportos ou eventos como shows e jogos. Pelos meios digitais, já passa entre 5% e 7% da receita bruta da Estapar. A expectativa é que, com o passar dos anos, esses percentual alcance, pelo menos, 30%.

Desde 2012, início da gestão de Iasi, a companhia investiu mais de R$ 70 milhões em tecnologia e, nos últimos anos, a média alocada em pesquisa e desenvolvimento nessa área é de R$ 15 milhões ao ano. O aplicativo da empresa, por exemplo, foi desenvolvido internamente, com auxílio de companhias da área.

O sistema de tecnologia da informação da empresa integra a gestão de toda a rede. São mais de 1.000 estacionamentos em 75 cidades do país. De acordo com Iasi, 90% dos estabelecimentos já são "inteligentes" e monitorados digitalmente, 24 horas por dia. Dessa forma, é possível controlar o funcionamento remotamente, ganhar agilidade na gestão de emergências, como reparos de cancelas, e também adotar uma estratégia de preços dinâmicos que reagem conforme à demanda por vagas. "Com base nos dados gerados, é possível fazer estimativas de uso, com base em feriados e eventos climáticos."

Outro benefício do uso da tecnologia, para as margens do negócio, foi a redução no quadro de funcionários nos últimos dois anos de 8,5 mil funcionários para 7 mil.

A conectividade era a meta de Iasi quando chegou. Agora, os estudos contratados e os esforços do executivo miram atualizar o negócio para um futuro de carros compartilhados, elétricos e, mais à frente, autônomos e, no qual, os estacionamentos parecem desnecessários.

Para o executivo, a tecnologia é mais uma vez o caminho para enfrentar e até aproveitar as mudanças. É possível, por exemplo, transformar unidades de estacionamento em bolsões de movimentos de carros e passageiros, para embarques e desembarques.

"A deficiência na infraestrutura de transporte não será modificada e a demanda vai continuar existindo. Mesmo a realidade das redes compartilhadas de veículos representa um mercado a ser explorado. Será preciso gerir esse fluxo e nós vamos estar preparados para isso. Não é algo tão simples quanto parece, para a cidade, absorver essas modificações." Nesse cenário, a Estapar quer cada vez mais oferecer uma infraestrutura que facilite a mobilidade urbana.

Entre as mudanças que a Estapar está investindo, pois vê como oportunidade, é a transformação de seus estacionamentos em pontos de abastecimento para os carros elétricos e vem conversando com empresas especializadas nessa adaptação, para instalação de tomadas em suas vagas. "Estamos permanentemente estudando esse futuro, que esperamos para os próximos cinco a dez anos."

Outra missão de Iasi é buscar formas de ampliar o alcance e a estabilidade do negócio, por meio de contratos de longo prazo. Atualmente, a companhia opera em diversos segmentos por meio de acordos duradouros: aeroportos, shoppings, hospitais, arenas esportivas e instituições de ensino, além dos tradicionais estacionamentos de rua. A estratégia tem sido crescer também em outros segmentos, além dos aeroportos, que respondem por 15% da receita.

"Aumentamos o 'duration' do negócio de quatro para 13 anos", disse Isai, emprestando o termo do mercado financeiro que trata do tempo de duração de retorno de um título de investimento.

A empresa ainda detém diversos terrenos, mas a maioria já não é mais uma propriedade, é apenas uma operação.

Fundada em 1981 em Curitiba, a Estapar tem sua maior praça em São Paulo, que representa 45% da receita, seguida pelo Rio de Janeiro com 20%. No total, opera em 75 cidades de 16 Estados, com 400 mil vagas, que atendem cerca de 15 milhões usuários ao mês.

O cenário mais provável é abrir o capital por meio de oferta pública na B3. Mas, não há planos no curto prazo. Os sócios ainda vêem espaço para crescimento, embora o tamanho da Estapar não tenha comparação com o restante da concorrência no Brasil - ela é considerada a maior rede de estacionamentos do país. A empresa ainda não paga dividendos, em razão do endividamento. Iasi não informou dados referentes ao ano passado. Ao fim de 2016, a Allpark tinha R$ 509,6 milhões em dívida bruta e R$ 396,3 milhões em caixa.